Dinastia Joseon
Em 1392, o general Yi Seong-gye, também conhecido com Taejo, fundou uma nova dinastia, chamada Joseon, depois que ele derrubou a dinastia Goryeo. A nova dinastia governou a península coreana por mais de 500 anos, até a ocupação japonesa no início do século XX.
Os primeiros reis da dinastia adotaram o Confucionismo como filosofia de administração do reino, a fim de conter a influência dominante do Budismo do período de Goryeo. O Confucionismo enfatizava a importância da moralidade, da disciplina social, do respeito às hierarquias e da educação. Esses valores foram considerados fundamentais para a construção de uma sociedade justa e harmoniosa. O governo de Joseon adotou uma série de políticas que refletiam os princípios do Confucionismo, incluindo a criação de um sistema de exames para selecionar funcionários públicos com base no mérito e na virtude, e a promoção da educação para todos, não apenas para as elites. Embora o Confucionismo tenha se tornado a filosofia dominante durante a dinastia Joseon, o Budismo ainda continuou a ser praticado por muitos coreanos e teve uma influência significativa na cultura e na arte coreana.
Durante a dinastia Joseon, o sistema de exames para selecionar funcionários públicos com base no mérito e na virtude foi um dos principais canais para recrutar funcionários públicos, e serviu como um suporte principal para a mobilidade social e a atividade intelectual da época. Aqueles que conseguiram se destacar nos exames, podiam ascender a posições de poder e prestígio na sociedade. No entanto, o sistema político nem sempre era equilibrado, e a elite governante muitas vezes privilegiava seus próprios interesses e os de sua família, em detrimento do bem-estar da população em geral. Além disso, o sistema de exames, embora tenha sido um caminho importante para a mobilidade social, ainda era altamente restritivo e excluía muitos membros da sociedade, incluindo mulheres e aqueles que não tinham condições de arcar com os custos da educação.
O rei Sejong, o Grande (1418-1450)
Durante o reinado do rei Sejong, o Grande (1418-1450), quarto monarca de Joseon, foi um dos períodos mais notáveis da história da dinastia Joseon, e é considerado um período de ouro para a cultura e as artes coreanas. O rei Sejong era um grande patrono das artes e da cultura, e ele incentivou ativamente a produção de obras literárias, musicais e artísticas.
Durante seu reinado, o alfabeto coreano, conhecido como Hangeul ou Hangul, foi desenvolvido e popularizado. Na época, este alfabeto se chamava Hunminjeongeum ou “sistema fonético apropriado para educar o povo.” Antes disso, a escrita coreana era baseada em caracteres chineses, o que a tornava difícil de aprender para as pessoas comuns. A criação do Hangul tornou a escrita coreana muito mais acessível e abriu as portas para a produção de obras literárias e científicas em língua coreana. Podemos citar algumas obras-primas literárias dessa época. O “Hunminjeongeum Haerye” é um comentário sobre o desenvolvimento do Hangul, e o “Jikji” é um livro budista impresso em metal que é considerado o livro mais antigo do mundo a usar tipos móveis.
O rei Sejong, o Grande, era um grande entusiasta da ciência e da astronomia em particular. Durante seu reinado, foram produzidos muitos instrumentos e dispositivos científicos, incluindo relógios de sol e água, globos celestiais e mapas astronômicos. O interesse do rei pela astronomia não era apenas um passatempo pessoal; ele também tinha motivações políticas e militares para estudar as estrelas. Na época, a astronomia era vista como uma ferramenta importante para prever eventos celestiais, como eclipses e cometas, que eram considerados presságios do céu. Esses eventos celestes eram vistos como sinais divinos que poderiam afetar a estabilidade política e a segurança do reino. Como resultado, o rei Sejong incentivou ativamente a produção de instrumentos e mapas astronômicos precisos para ajudar a prever esses eventos celestiais e garantir a segurança do reino.
Um exemplo notável de seu interesse na astronomia é a criação do Jang Yeong-sil, um dos maiores inventores e cientistas da Coreia. Ele foi contratado pelo rei Sejong para trabalhar em projetos científicos, incluindo o desenvolvimento de um relógio mecânico, um calendário mais preciso e outros instrumentos científicos. Jang Yeong-sil também foi um dos responsáveis pela produção do primeiro globo celestial da Coreia, que foi considerado um dos melhores do mundo na época.
O rei Sejo (1455-1468)
Como parte de esforços para implantar a estrutura de governo de Joseon, o rei Sejo (1455-1468) implementou uma série de reformas políticas, incluindo a criação de um sistema legislativo mais formal e a compilação do Gyeongguk Daejeon, ou Código Nacional. O Código Nacional era um conjunto de leis e regulamentos que estabeleciam as bases legais para o governo e a sociedade da dinastia Joseon. A estrutura de gestão da dinastia de Joseon foi oficialmente estabelecida com a conclusão subsequente de Gyeongguk Daejeon durante o reinado do rei Seongjong (1469-1494).
O processo de compilação do Código Nacional foi longo e trabalhoso, levando cerca de 16 anos para ser concluído. Durante esse tempo, os estudiosos da corte trabalharam para coletar e organizar leis e regulamentos de todo o reino. O Código Nacional foi dividido em várias seções, cobrindo tópicos como direito penal, direito civil, direito de família e direito tributário. O estabelecimento do Código Nacional foi um marco importante na história da Coreia, pois ajudou a criar um sistema legal mais justo e uniforme em todo o país. O código estabeleceu as bases para o governo e a sociedade da dinastia Joseon e continuou a ser uma fonte importante de leis e regulamentos até o final da dinastia em 1910.
Invasão japonesa à Península Coreana (1592-1598)
Em 1592, o Japão, liderado por Toyotomi Hideyoshi, invadiu a Península Coreana com o objetivo de expandir seu poder e influência na Ásia. A dinastia Joseon não estava preparada para enfrentar um exército tão poderoso. A invasão, que foi chamada de Guerra Imjin, foi um dos conflitos mais violentos e devastadores da história da Coreia. A invasão japonesa à Península Coreana ocorreu em duas fases, a primeira de 1592 a 1593 e a segunda de 1597 a 1598, totalizando cerca de seis anos de conflito.
Os japoneses foram inicialmente bem-sucedidos em suas invasões, conquistando grandes partes da Coreia e saqueando as cidades ao longo do caminho. No entanto, a dinastia Joseon, liderada pelo rei Seonjo, conseguiu reunir um exército para lutar contra os invasores. Os coreanos lutaram com coragem e determinação, usando táticas de guerrilha e ataques surpresa para surpreender os japoneses. No mar, o almirante Yi Sun-sin (1545-1598), uma das figuras mais respeitadas da história coreana, realizou uma série de brilhantes operações navais contra a tropa japonesa, desenvolvendo o geobukseon (ou navio em forma de tartaruga), que é conhecido como o primeiro navio de guerra blindado do mundo.
O almirante Yi Sun-sin é especialmente conhecido por suas batalhas na região de Myeongnyang, onde sua frota de apenas 12 navios conseguiu derrotar uma força japonesa de mais de 300 navios. Essa vitória é considerada uma das maiores realizações militares da história, e Yi Sun-sin foi promovido a almirante e reconhecido como um herói nacional. Ele continuou a liderar as forças navais coreanas até sua morte em batalha em 1598.
O Geobukseon foi chamado assim por sua aparência semelhante à de uma tartaruga. Era construído com madeira resistente à água e coberto com placas de ferro para proteger contra ataques inimigos. A embarcação tinha cerca de 30 metros de comprimento e 10 metros de largura, com espaço para cerca de 120 marinheiros. O navio em forma de tartaruga foi uma inovação notável em sua época, pois combinava elementos de navios de guerra e fortalezas flutuantes. O casco em forma de cúpula permitia que a embarcação resistisse a ataques de canhões e foguetes, e o interior era equipado com armas como canhões e artilharia móvel.
Desde o início do século XVII, um movimento acadêmico chamado Silhak (ou ciência prática) ganhou grande força entre os acadêmicos liberais como um dos instrumentos para construir uma nação mais moderna. Foi liderado por estudiosos que se preocupavam com questões práticas e materiais, como a agricultura, a economia e a tecnologia, em vez de se concentrar apenas nas tradicionais áreas da filosofia e da literatura confucianas.
Os estudiosos do Silhak acreditavam que a educação deveria ser mais prática e útil para a vida cotidiana das pessoas comuns. Eles propuseram a utilização da ciência e da tecnologia para melhorar as condições de vida dos camponeses e das classes mais baixas da sociedade. Entre suas realizações, estavam o desenvolvimento de novas técnicas agrícolas, a criação de mapas precisos do país e a promoção do uso de novas ferramentas e maquinários. Eles insistiram muito junto às autoridades do reino que promovessem o progresso agrícola e industrial junto com uma ampla reforma agrária. Entretanto, os aristocratas conservadores da dinastia não estavam preparados para aceitar tal mudança drástica.
Na segunda metade do período de Joseon, a administração e a classe alta da dinastia passaram a ser marcadas pelo partidarismo recorrente. Para dar fim a esta situação política indesejável, o rei Yeongjo (1724-1776) adotou finalmente uma política de imparcialidade. Ele tentou romper com o sistema de favorecimento de poderosos nobres e burocratas, conhecido como “injin”, que havia prevalecido durante séculos e muitas vezes resultava em corrupção e injustiça.
O rei Yeongjo (1724-1776)
O rei Yeongjo foi o 21º rei da dinastia Joseon e governou de 1724 a 1776. realizou uma série de reformas para fortalecer o poder central e limitar a influência dos nobres e burocratas poderosos. Ele estabeleceu uma série de medidas para promover a igualdade e a justiça, incluindo o estabelecimento de tribunais independentes para julgar casos de corrupção e abuso de poder, e a promoção de oficiais de mérito em vez de oficiais com conexões políticas. Além disso, o rei Yeongjo promoveu uma política de estabilização econômica e fortalecimento das finanças do Estado. Ele incentivou a produção agrícola, promoveu a manufatura e o comércio, e implementou políticas fiscais equilibradas para garantir o crescimento econômico sustentável. Essas reformas tiveram um impacto significativo na sociedade coreana, melhorando as condições de vida dos cidadãos comuns e fortalecendo a posição do Estado na política nacional. Como resultado, o reinado do rei Yeongjo é amplamente considerado como um dos mais bem-sucedidos da dinastia Joseon.
No entanto, o reinado do rei Yeongjo não foi sem desafios. Ele teve que lidar com revoltas camponesas e conflitos internos, além de uma forte oposição de nobres e acadêmicos confucionistas. Uma das mais notáveis disputas ocorreu em 1762, quando o rei tentou nomear seu filho, o príncipe herdeiro Sado, como sucessor ao trono. No entanto, o príncipe foi acusado de cometer um crime grave e, em vez de matá-lo, o rei ordenou que ele fosse trancado em um baú de arroz, levando à sua morte. Apesar desses desafios, o reinado do rei Yeongjo é lembrado como um período de estabilidade e progresso na história da Coreia.
O rei Jeongjo (1776-1800)
O reinado de Jeongjo foi marcado por importantes reformas políticas e econômicas, bem como por uma grande ênfase na cultura e nas artes. Em termos políticos, o rei Jeongjo implementou medidas para reduzir a corrupção e o nepotismo dentro do governo, incluindo a criação de um sistema de nomeação de funcionários públicos baseado no mérito em vez de conexões políticas. Ele também tentou reduzir a influência dos poderosos clãs familiares, que historicamente haviam controlado grande parte do poder na dinastia Joseon.
Economicamente, o rei Jeongjo adotou políticas para estimular o comércio e a manufatura, incluindo a abertura de portos para o comércio internacional e a criação de guildas de comerciantes para promover o comércio interno. Ele também implementou medidas para ajudar os agricultores, incluindo a redução de impostos sobre a terra e o fornecimento de ajuda em caso de desastres naturais.
Ele construiu uma biblioteca real (Gyujanggak) em 1776. Ela foi estabelecida como uma instituição para preservar e compilar documentos históricos, literários e científicos. Foi uma das primeiras bibliotecas do tipo na Coreia e tornou-se um importante centro de estudos e pesquisa. Infelizmente, em 1900, a biblioteca foi saqueada e muitos dos seus tesouros culturais foram perdidos. No entanto, uma parte significativa do acervo sobreviveu e é preservada até hoje.
Além disso, o rei Jeongjo é lembrado por uma famosa peregrinação que ele fez ao túmulo de seu pai em 1795. Ele percorreu uma longa jornada de mais de 200 km até a cidade Suwon, acompanhado por sua corte e um grande número de súditos, como uma demonstração de piedade filial. Essa peregrinação é considerada um dos eventos mais importantes da história coreana e é retratada em muitas obras literárias e cinematográficas. O rei Jeongjo é conhecido por muitas realizações, incluindo a fundação da cidade de Suwon. Ele escolheu Suwon como o local para construir uma nova fortaleza em 1794, chamada Hwaseong, como um símbolo do poder da dinastia Joseon e para proteger a capital, Hanyang (atual Seul), dos ataques inimigos. A fortaleza foi projetada com técnicas avançadas de arquitetura militar e incluía uma série de sistemas de defesa, como muralhas, torres, portões e canais de água. Hoje, a Hwaseong é uma das principais atrações turísticas da Coreia do Sul e foi declarada Patrimônio Mundial pela UNESCO em 1997.